REVIEW: BATMAN - ANO UM
- ALASTOR
- 15 de set. de 2015
- 3 min de leitura
História que conta a origem do Batman e a principal fonte de inspiração por trás de Batman Begins de Christopher Nolan.

Escrita pelo lendário Frank Miller, de Sin City/300, na minha opinião, esta é a história de Batman que todos deveriam começar.
Segue-se o nascimento de carreira de Bruce Wayne como Batman, e está quase tudo lá: a motivação em razão da morte de seus pais, a preparação física e mental, o auxílio precioso de Alfred, a participação de Harvey Dent (o futuro Duas-Caras) e o início da amizade com o então tenente James Gordon bem como, contando suas origens humildes como um membro da polícia de Gotham City – descrita numa história paralela contada a partir de ambos os personagens. No entanto é a forma de contar a história que, faz toda a diferença. Não satisfeito em mostrar Gotham como uma cidade "suja", comandada por políticos corruptos e patrulhada por policiais tão corruptos quanto, Miller dá um aprofundamento psicológico jamais visto aos já conhecidos personagens da DC. Bruce Wayne surge como alguém preparado e ciente de sua missão como defensor da cidade, mas ao mesmo tempo comete erros e é inseguro quanto ao melhor método a utilizar no combate ao crime. A brilhante sequência em que Batman evita um assalto mas quase mata um dos assaltantes é emblemática e nos dá a perfeita noção da gênese do herói. Gordon, por sua vez, aparece como o personagem mais interessante da trama, um policial veterano que representa o último vestígio de honestidade em uma cidade tomada pela corrupção. Pressionado pelo comissário e pelos colegas, em nenhum momento ele dá mostras de que seu caráter será modificado, mas simultaneamente se envolve em um caso amoroso fora do casamento, falha várias vezes e ganha sua redenção ao final da história.

Retomando a parceria que já havia rendido a seminal "Queda de Murdock", em 1986, Miller e Mazzucchelli foram contratados pela DC para recontar a origem do homem-morcego após o evento "crise nas infinitas terras". Para quem não lembra, a "crise" (a primeira de muitas que a DC promoveria desde então) foi uma espécie de "reboot" do universo DC, no qual antigos personagens ganharam novas origens e tratamento mais contemporâneo. Depois de entregar o Super-Homem para John Byrne e a Mulher-Maravilha para George Pérez (que também fizeram trabalhos excelentes), acabaram por convidar Miller para uma pequena repaginada na origem do homem-morcego. O convite veio logo após o impacto da publicação de outra grande obra de Miller, "O cavaleiro das trevas". Esta, em conjunto com "A piada mortal", de Alan Moore, e "Ano um", forma a tríade das melhores histórias do Batman de todos os tempos, leitura obrigatória para todos os fãs do morcegão.
Diferente do que aconteceu em "Cavaleiro dos trevas", onde ficou com o roteiro e a arte, aqui Miller se encarregou apenas da história, deixando os desenhos para o mestre Mazzucchelli. E, assim como tinha acontecido em "A queda de Murdock", os dois produziram uma obra marcante do início ao fim.
Artista ímpar em seu ramo, Mazzuccheli marcou época mais uma vez com "Batman: ano um". Sua arte econômica e expressionista casa maravilhosamente bem com os diálogos precisos de Miller. Valendo-se de enquadramentos por vezes inusitados, o desenhista contribui, e muito, para a ambientação perfeita de Gotham City. Nesta hq a cidade revela-se como um verdadeiro personagem, praticamente interagindo com os protagonistas da trama, em uma simbiose raras vezes encontrada nos quadrinhos de super-heróis. Não é `a toa que Mazzucchelli tem sido premiadíssimo por sua obra autoral recente, algo que representa um tardio reconhecimento ao trabalho desse grande desenhista.
A arte de David Mazzucchelli é sutil e retrô, enquanto narrativa de Frank Miller é realista e corajosa, considerando que este título foi lançado em 1987 – bem como todo o trabalho de Frank Miller, é muito à frente de seu tempo.
Conclusão máxima: Um clássico definitivo, mas para ficar melhr, se é que pode, talvez a DC pudesse ter convidado Christopher Nolan para escrever um pequeno texto também, tendo em vista a clara inspiração de "Ano um" para o roteiro de "Batman Begins". Como os fãs bem sabem, sequências inteiras do filme de 2005 dirigido por Nolan foram tiradas diretamente da HQ, como o ataque dos morcegos, a chegada de Bruce a Gotham e até mesmo a carta do Coringa no final, dando um gostinho do que aconteceria em "Batman: O Cavaleiro das Trevas". Mais recentemente, a Warner lançou uma elogiada animação baseada na HQ. De qualquer forma, é sempre recomendável a leitura do texto original, que comprova o talento de Miller como um dos grandes nomes dos quadrinhos dos anos 80.
Espero que tenham gostado, não esqueçam de deixar sua opinião, até a próxima!
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